A saúde e a baleia azul

fonte: O Globo

por Alfredo Guarischi – médico, cirurgião geral e oncológico, especialista em Fator Humano, Organizador do SAFETYMED e do GERHUS

O jogo da baleia azul é um enorme problema que vem preocupando todos os responsáveis por adolescentes. Propondo 50 desafios em complexidade crescente, chega a sugerir o suicídio na última etapa.

É possível que esse crime cibernético tenha nascido, em algum ponto da Rússia, como uma notícia falsa (“fake news”).

Quem estabelece as regras e propõe os desafios é um canalha denominado mentor, uma espécie de líder, geralmente adulto, que ordena a tarefa a ser realizada no dia, exigindo a comprovação com fotos do trabalho feito.

Essa “fake news” se tornou realidade, quando a tarefa número 50, que poderia ser pular do alto de um edifício, foi dessa forma cumprida por uma jovem de 15 anos. Outros adolescentes chegaram ao fim do jogo e de suas vidas, por exemplo, se atirando na frente de um trem ou se enforcando.

Isso ocorreu na França, Romênia, Inglaterra e outros países, chegando ao Brasil.

Nossa assoberbada, mal remunerada e metralhada polícia tem mais esse desafio a investigar.

Como aqui é o país onde surgiu a ideia de que nunca se viu nada igual, inovamos, mas baseados em notícias verdadeiras.

Isso é que é ser diferente!

Os hospitais públicos estão sucateados. O SUS vem sendo atacado de forma firme, para que se crie um sistema de planos de saúde que jamais darão cobertura adequada.

O Brasil tem mais faculdades de medicina que os EUA e a China, perdendo apenas para a Índia; nos últimos 13 anos, nosso governo vem promovendo desenfreada destruição das faculdades de medicina públicas e incentivado a criação de escolas médicas sem qualquer planejamento racional, na maioria visando atender grupos políticos. De maneira despudorada, sustenta algumas faculdades privadas de fundo de quintal com a oferta de bolsas de estudos com dinheiro público. O valor das mensalidades é estabelecido por essas mesmas empresas de ensino, tornando a medicina o mais lucrativo negócio de ensino superior brasileiro. O correto seria aumentar o número de faculdades públicas ou o número de vagas nas já existentes.

Esse projeto enfraquece a formação profissional, pois o ensino médico exige hospitais-escola e longo treinamento após os seis anos de faculdade, com residência médica que pode necessitar de três a cinco anos para formar um profissional pleno.

Faltam remédios, e os que compram podem ser como a asparaginase chinesa, usada para o tratamento de crianças com leucemia, que não tem certificação mas tem impurezas de sobra.

Como eu, a maioria dos médicos há muito vem alertando sobre o que vem ocorrendo com o sistema de saúde brasileiro.

Mesmo assim e diante de tantas notícias verdadeiras, nosso Ministério da Saúde decidiu impor aos brasileiros, principalmente os idosos, o seu jogo da baleia azul.

As tarefas impostas podem piorar ainda mais o que está muito ruim.

Esse jogo tem que ser proibido e a polícia vai ter que investigar