DII: principais classificações endoscópicas e rastreio de displasia

por Ana Teresa Pugas Carvalho
Prof. Titular e Coordenadora da Disciplina de Gastroenterologia e Endoscopia Digestiva do HUPE da UERJ; Chefe do ambulatório de DII da UERJ

INDICAÇÃO DE EXAME ENDOSCÓPICO NA DII E INTERVALOS:

  • No 1º exame do diagnostico, sempre alcançando o íleo, descrevendo as principais alterações e realizando pelo menos 4 biopsias do íleo, colon direito, transverso, colon esquerdo e reto para avaliação da extensão inicial da doença.
  • Para controle de tratamento e cicatrização da mucosa alguns meses (6 a 8 meses a critério do MA) após tratamento inicial, não havendo necessidade de biopsiar quando o diagnóstico estiver firmado, a menos que seja para diagnostico diferencial de colite infecciosa em paciente imunossuprimido.
  • Para pacientes com RCUI no controle de resposta ao tratamento basta a RSC flexível alcançando pelo menos do sigmoide proximal. Biopsias para avaliar a remissão microscópica ainda são controversas.
  • A cada 5 anos, para avaliar se não houve progressão da extensão proximal da doença ao longo dos anos.
  • Rastreio de displasia e câncer coloretal

RASTREIO DE DISPLASIA E CÂNCER COLORETAL: QUEM, QUANDO E COMO?

O risco de CCR vem diminuindo com o controle da inflamação.

A – Quem:

  • todos (RCUI e doença de Crohn de colon)
  • pacientes com proctite isolada ou Crohn de delgado exclusivo não tem risco aumentado de CCR e seguem com o rastreio da população geral
  • aqueles submetidos a proctocolectomia total com bolsa íleo-anal

B- Quando:

Após 8 anos de início dos sintomas e a qualquer momento nos pacientes com colangite esclerosante primária (CEP). Estratificar o risco de CCR nos pacientes com DII para definir o intervalo das colonoscopias.

Alto risco: realizar colonoscopia anual

  • Inflamação persistente,
  • CEP,
  • familiar Ca coloretal em parente de 1º grau com < 50 anos
  • Area/segmento com inúmeros pseudopolipos – porque dificulta a avaliação da mucosa
  • Relato de displasia previa < 5 anos
  • Aqueles submetidos a proctocolectomia total com bolsa íleo-anal: pacientes com passado de CCR, pouchite de repetição, passado de displasia

Risco intermediário: realizar colonoscopia a cada 2 – 3 anos

  • Colite endoscópica leve
  • familiar Ca coloretal em parente de 1º grau com > 50 anos
  • Relato de displasia previa > 5 anos

Baixo risco: realizar colonoscopia a cada 5 anos

  • Doença em remissão por longos períodos desde a ultima colonoscopia
  • Mais de 2 colonos consecutivas sem displasia
  • Colite esquerda

C – Como: Endoscopia de alta definição com luz branca, cromoendoscopia com corantes ou cromoendoscopia digital.

Os trabalhos mostram resultados semelhantes entre as 3 técnicas. Manter a cromoendoscopia para os grupos de alto risco. Manter biopsias randômicas a cada 10cm nos segmentos colonicos quando a unidade não possuir aparelhos de alta definição. Realizar o exame com preparo excelente e em remissão endoscópica.

Se for usar a cromoendoscopia com corantes: Azul de metileno 0,1% ou índigo carmin (0,03-0,5%). Usar cateter spray ou usar o canal de água com pedal. O corante intensifica o relevo, delimita as margens, avalia melhor o tamanho após a visualização da lesão e deixa as áreas displásicas sem coloração.

Diluir o corante em 250ml SF0.9% e começar a corar na retirada do ceco, por segmentos. Aspirar o excesso e avaliar a mucosa corada. Identificando alguma lesão suspeita, deve-se concentrar mais o corante.

Revisão após retirada da lesão displásica:

  • 3- 6 meses: displasia de alto grau ou ressecção incompleta, LST, lesões >2cm
  • 12 meses: lesões > 1cm, displasia de baixo grau
  • 24 meses: lesões < 1cm ou polipos pediculados com displasia de baixo grau

PRINCIPAIS SCORES NA DII:

  • escore de Mayo é simples, fácil e o mais utilizado nos estudos. Como limitações, temos a falta de validação, a incapacidade de distinção entre úlceras superficiais e profundas e a classificação é  baseada no segmento do cólon pior avaliado em atividade. Devemos, portanto, fazer uma conclusão mais descritiva utilizando o score de Mayo na conclusão de forma segmentar.
Figura 1. Aspectos endoscópicos Mayo 0 – 4 –  O score 0 e 1 demonstram remissão endoscópica e o 2 e 3 atividade
  • O SES-CD foi desenvolvido como uma simplificação do CDEIS e tem boa correlação com o mesmo. Ele inclui quatro variáveis (tamanho da úlcera, extensão da superfície ulcerada, extensão da superfície afetada e estenose) em 5 segmentos do cólon. Estudos clínicos têm definido remissão quando o escore se apresenta < 3 .

  • O escore de Rutgeerts é usado exclusivamente para avaliação da recidiva endoscópica da doença de Crohn no neoíleo e na  anastomose após ressecções ileocolônicas. O score i0 e i1 retratam remissão endoscópica e o i 2,3 e 4: recidiva. Cuidado porque ulcerações na linha da anastomose exclusivamente muitas vezes são isquêmicas e não significam atividade.

Todos esses scores podem ser acessados facilmente pelo seu smarthphone no aplicativo do Gediib, com cálculo imediato do score final e de fácil preenchimento: é só baixar no seu celular o aplicativo: GEDIIB SCORES  e começar a usar sem precisar decorar!

Referencias:

  • Laine L, Kaltenbach T, Barkun A, et al. Gastroenterology. 2015;148:639–651
  • AGA Expert Review: Dysplasia in IBD;Gastroenterology 2021,161:1043-51
  • Jordan E. Axelrad and David T. Rubin, The Management of Colorectal Neoplasia in Patients With Inflammatory Bowel Disease Clinical Gastroenterology and Hepatology 2024;22:1181–1185
  • Bo Shen, Maria T. Abreu, Erica R. Cohen, Francis A. Farraye,  Monika Fischer,  Paul Feuerstadt, Saurabh Kapur, Huaibin M. Ko,  Gursimran S. Kochhar,  Xiuli Liu,  Uma Mahadevan,  Deborah L. McBride,  Udayakumar Navaneethan, Miguel Regueiro Tim Ritter, Prateek Sharma,  Gary R. Lichtenstein, Endoscopic diagnosis and management of adult inflammatory bowel disease: a consensus document from the American Society for Gastrointestinal Endoscopy IBD Endoscopy Consensus Panel Prepared by: THE ASGE IBD ENDOSCOPY CONSENSUS PANEL; Volume 101, No.2: 2025 GASTROINTESTINAL ENDOSCOPY 295.
  • Limdi JK, Picco M, Farraye FA, A Review of endoscopic scoring systems and their importance in a “treat to target” approach in inflammatory bowel disease. Gastrointestinal Endoscopy 2020 Apr;91(4):733-745.