Associado da SOBED-RJ atua na linha de frente de atendimentos contra a covid-19

Competência, determinação e entusiasmo sempre marcaram a trajetória do endoscopista fluminense Gregorio Feldman, um dos fundadores do serviço de Gastro e Endoscopia do Hospital de Força Aérea do Galeão (HFAG) e da Clinica Gastroendo, que foi criada por ele e mais quatro endoscopistas em 1988.

Mas foi depois de 43 anos de formado, quando se viu diante da pandemia de covid-19, que percebeu sua capacidade de se reinventar. Com as atividades da Gastroendo paralisadas, por conta do coronavírus, ele decidiu se unir no combate à pandemia e passar a atuar na linha de frente.

“Eu estava na quarentena, em casa, então pensei: vou começar a estudar! Mas o que vai ser mais importante nessa pandemia? Ventiladores, respiração mecânica! Então, eu comecei a estudar muito e entrei em dois ensinos à distância: um do Hospital Sírio Libanês (SP), que eu recomendo, e outro de Harvard (EUA). Todos relacionados à ventilação mecânica em covid-19. Ao mesmo tempo, entrei em contato com a chefe do CTI do Hospital de Força Aérea do Galeão, para me atualizar na parte prática, já que estava afastado há 20 anos de CTI. Simultaneamente, o Ministério da Saúde começou a convocar médicos para trabalhar na atenção primária em covid-19 e me inscrevi. Também soube que a Rede D´Or iria fazer dois hospitais de campanha, coloquei o meu currículo e fiquei esperando.”

Após 3 semanas de reciclagem dos estudos, Dr. Gregório foi aprovado para um contrato de 2 a 3 anos no Ministério da Saúde. Desde abril, trabalha na Clinica da Família atendendo pacientes com covid-19 na fase inicial.

“Foi uma surpresa! Não tinha a experiência de trabalhar em comunidade, fui trabalhar depois de 40 anos de formado. Estou muito feliz! Você dá atenção, examina, esclarece. É muito gratificante. São pessoas agradecidas. Eu levo oxímetro, meço a saturação, que é um dos parâmetros mais importantes nessa situação, e quando precisa internar, a gente dá o atendimento primário, bota no oxigênio. E aí eles já entram no sistema vaga zero, que você bota no computador, e de repente abre uma vaga na UPA da Tijuca, da Ilha, por exemplo, e eles vêm buscar. É muito digno. De 20 pacientes atendidos, 1 necessita ir à UPA para internação ou pelo menos para uma avaliação melhor.”

Outra grata surpresa ocorreu em maio, quando foi selecionado para o CTI do Hospital de Campanha do Leblon para trabalhar em regime de plantão de 12 horas. Dr. Gregório acredita que um critério determinante foi tanto a sua experiência em CTI, quanto em hospitais de campanha.

“Eu fui criado em CTI, durante toda minha vida acadêmica, desde o 2º e 3º ano. E atuei em CTIs muito fortes aqui no Rio de Janeiro: do Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro (IASERJ), que fiquei de 1979 a 1997, e do Hospital de Força Aérea do Galeão, de 1980 a 2003. Entrei no HFAG, justamente, porque eu sabia fazer CTI e eles estavam precisando. Como médico da Aeronáutica, também tive oportunidade de trabalhar na concepção e supervisão de hospitais de campanha nas áreas de conflito, principalmente na África. Atuei por dois anos como oficial médico do Departamento de Operações de Paz da ONU. Ficava baseado em Nova York, mas ia nas missões e acompanhava de perto. Os hospitais de campanha não tinham CTI, eram destinados ao primeiro atendimento de feridos em área de conflitos.”

Segundo ele, a experiência de poder atuar nos dois extremos da pandemia, ou seja, da atenção primária ao CTI, está sendo muito enriquecedora. Porém, nada mais gratificante, do que ter como parceira de trabalho a sua filha Bianca, de 34 anos, especializada em Clínica Médica, que já trabalhava na emergência do Hospital Copa D’Or e passou a atuar no combate à pandemia.

“Minha filha também foi selecionada e fez questão de dar plantão comigo. Está sendo uma experiencia incrível! Nunca imaginei que daria plantão no mesmo CTI porque nossos caminhos eram divergentes, em termos de especialidade, e confluíram nessa pandemia. Estou vendo-a super bem, no ritmo da garotada. Mas é bom porque ela cuida dos pacientes e de mim, também. O CTI do HCAMP do Leblon, é espetacular, de alto padrão, fantástico! Estou impressionado pois tive experiência em hospital de campanha da ONU e o deles não chega nem aos pés.”

Entre os maiores desafios que Dr. Gregório enfrenta nessa tripla jornada, uma vez que recebeu também o convite para trabalhar no CTI do HFAG, está a alta capacitação dos jovens médicos.

“Estou penando para me atualizar na parte clínica. Essa garotada que está hoje em dia é muito boa! Me sinto como o Zico, hoje, jogando com o Gabigol e o Bruno Henrique. Não vai dar para acompanhar os dois, mas com certeza, o Zico sabe o que é uma bola, um gol. Então, me sinto o Zico jogando com essa garotada top que eu estou vendo trabalhar no CTI, que tem por volta de 30 anos.”

Coragem para superar desafios sempre foi uma marca do endoscopista. Formado, em 1977, pela Universidade Gama Filho, Dr. Gregório Feldman, logo partiu para fazer pós-graduação em Medicina Interna no Royal Northern Hospital e no Royal Free Hospital, com a Professora Sheila Sherlock, em Londres.

Depois, voltou ao Brasil para acompanhar o pai, que havia descoberto um câncer de estômago, aos 50 anos. Na ocasião, prestou concurso para Aeronáutica e se entusiasmou pela gastroendoscopia ao trabalhar no HFAG, onde se especializou e fez residência na área.

Com outros quatro colegas do HFAG, formou em 1988, um grupo de endoscopia, que deu origem à Gastroendo, clínica carioca especializada em procedimentos diagnósticos de alta tecnologia, como a Endoscopia e Colonoscopia.

Fez diversas especializações e cursos no exterior, onde atuou nos renomados serviços dos professores: Dr. Nib Soehendra (Universidade de Hamburgo, Alemanha), Dr. Hans Gerdes (Memorial Hospital, Nova York), Dr. Jerome Waye (Mount Sinai, Nova York) e Prof. Erwin Santo (Tel Aviv, Israel).

Dr. Gregório também é participante assíduo de congressos nacionais e anualmente apresenta trabalhos científicos no DDW e em congressos europeus de endoscopia.

Ao fazer um balanço da trajetória profissional, ele destaca as primeiras tecnologias e os avanços obtidos:

“A gente começou com um aparelho portátil, não tinha vídeo, só dava para tirar foto com uma máquina acoplada na lente. A gente teve acesso aos endoscópios e foi se aprimorando graças às novas tecnologias adquiridas pelo HFAG. Vinha gente do Fundão, de outros estados do Brasil, até do exterior, para estagiar e aprender no Hospital. Formamos muito endoscopistas através do serviço de residência. Vários membros titulares da SOBED fizeram residência no HFAG. Sempre ia para o exterior e trazíamos muita coisa para o Brasil, primeiro para o HFAG, e depois para Gastroendo. Entre as técnicas que trouxemos de fora, cito: tecnologias de CPRE, o uso de hemoclipe, plasma de argônio e cápsula endoscópica, que a gente começou junto com o Dr. Arthur Parada, do Hospital 9 de Julho, em São Paulo, uma tecnologia revolucionária, entre tantas.”

Mas de toda carreira, o mais gratificante para ele é ter o respeito e admiração dos colegas.

“É uma troca e admiro muito todos os professores e colegas que tiveram essa mesma trajetória da Gastroendo. Fico muito feliz de ter o Dr. Djalma como presidente da SOBED-RJ. Vi quando ele começou, filho do José Flávio, que foi nosso contemporâneo. Eu acho que o valor humano é o melhor da minha experiência de endoscopia. Poder ajudar os pacientes, salvar mais gente, o que o meu pai não conseguiu. Fazer endoscopia na década de 70 era muto difícil. O mais importante é atuar na prevenção de doenças graves como câncer de esôfago, estômago e intestino. Poder diagnosticar e tratar precocemente as lesões é o foco da maior parte dos endoscopistas”, conclui.